top of page

O Hospital

O Hospital era grande, enorme, na cor tradicional que os hospitais são, verde água com marfim. Dizem que o verde acalma, deve ser por isso. Um dia, os funcionários viram um rato morto no saguão, aquilo foi horrível! Vai ver os pobres trouxeram o rato, veio com eles decerto, de algum beco sujo qualquer.

Ela chegou e ouviu um choro desesperado, suplicante, de uma mulher que, em choque, quedava-se acocorada no corredor, contorcendo-se sobre os próprios joelhos, enroscada a um canto da parede, como se sentisse uma dor profunda, lancinante, insuportável. Tinha a expressão de alguém em desespero, cuja desgraça é tão terrível que não há mais solução. Aquela cena incomodava, então perguntou para alguém:

   - O que houve com ela?

   - Não sei - disse o atendente.

Ela então seguiu seu caminho, levando o paciente ao bloco cirúrgico, um velho magro e franzino, com as veias azuis aparecendo e com a morte estampada nos olhos, nem sequer entendeu o passava ao redor.

Entregou o paciente no bloco e veio pelo corredor sentindo o odor da doença, ouvindo gemidos, vendo olhos vermelhos. A paisagem só mudou próxima a sala do pré-parto, aí eram caras alegres, radiantes com fisionomias leves e animadas.

Aproximando-se da porta do bloco ouviu de novo o mesmo choro angustiado da mulher de antes. Abriu a porta, deu de cara com ela, no mesmo canto, na mesma posição, com as pessoas passando impassíveis, apressadas. Num hospital ninguém tem muito tempo, tudo é grave, a miséria é grave, sem remédio, sem cura.

Não suportava mais ver a mulher naquele sofrimento, perguntou de novo a alguém:

   - O que houve com ela, por que ninguém faz alguma coisa?

   - Parece que a filha foi operada, está no bloco eu acho... – disse-lhe um enfermeiro.

Ela se aproximou da mulher, tentou falar-lhe, mas estava em choque, chorava convulsivamente, uma dor gigante, uma agonia que se via em seus olhos, uma dor sem remédio.

Ela entrou numa das unidades, num dos postos de atendimento, perguntou:

    - O que houve com ela, porque chora desse jeito?

    - A filha foi operada de apendicite e morreu no bloco.

    - É mesmo, por isso está assim então.

    - É pior do que isso! Acho que se sente culpada, pois não estava quando a filha morreu.

    - Meu Deus, mas que mãe é essa?

    - É a vida, ela tinha que trabalhar.

    - O que ela faz?

    - É Metalúrgica.

    - Dêem um calmante pra ela, pelo menos.

    - Vamos dar, disse a enfermeira, estamos esperando o médico.

Saiu dali, desceu para o seu posto e quando voltou, mais tarde, pra levar os papéis dos novos pacientes a mulher já não estava mais...

bottom of page